terça-feira, 30 de outubro de 2012

Diário de um evangelista - parte 02

A comunidade - Lucas Filho

Evangelismo que celebra a vida, mas que também encontra a morte. Quando e como o papel de evangelizar passa a ser mais sério do que se pensa.


No último sábado dia 27 de outubro de 2012, fiz a minha segunda participação no grupo de evangelismo da igreja que congrego (Canaã - http://www.ministeriocanaa.com.br/). E foi um dia de sorrisos e abraços, mas também da notícia da morte de uma das pessoas que evangelizamos no encontro anterior. E isto só me fez pensar o quanto um evangelista deve permanecer sempre disposto a salvar vidas.

Chegamos à comunidade do Barroso por volta das 15h00min. Para a minha surpresa, muito outros irmãos estavam por lá, inclusive um dos meus professores do discipulado, Rodson Vieira. Alguns membros da JUC - Juventude Canaã-SEDE (Acesse o FaceBook), prepararam uma peça teatral, alguns lanches e cestas básicas que seriam distribuídos à comunidade.


Primeiro, fomos deixar em uma casa próxima, as cestas e os lanches que iríamos distribuir depois da apresentação teatral. Contamos com a ajuda de uma irmã cristã que mora perto de onde iríamos evangelizar. Quer saber o local? Veja a foto abaixo.

Os barracos da comunidade - Lucas Filho

Nesta foto podemos ver o que, para os menos desavisados, seria um monte, uma pequena elevação de terra. Mas a realidade é bem diferente, aquele “monte” é na verdade o aterro público da cidade de Fortaleza-CE que foi desativado há alguns anos. Sim, aquele “monte” é um “monte de lixo”. E as casas que vemos por lá, é onde iremos evangelizar.

Chamamos toda a vizinhança. Inclusive, fui até o final da rua – por assim chamar, para convidar os pais e as crianças para assistirem a peça. E pude perceber que alguns olhavam com desdém quando eu falava que o encontro seria no meio do aterro. Dava para ver o olhar de resposta do tipo: “Para lá?!... Não vou não, obrigado.” Ora se nem as pessoas que moram próximas se aproximam muito deles o que podemos esperar do nosso dia por lá?

Abram-se as cortinas do espetáculo, pois a peça vai começar

A peça, falava sobre como Deus pode transformar as nossas vidas. E neste momento, cerca de 20 crianças, estavam a li, todas prontas para ouvir a Palavra de Deus. Algumas mães também foram. E com sorrisos e encantos as apresentações forem feitas.

Ficamos então em dois grupos. O primeiro ajudava na peça e outro ia falar com os pais e outros jovens que não foram apreciar a apresentação. Desta forma, levaríamos a Palavra de Deus para todos os que estivessem dispostos a ouvi-la.

O “palco” foi a cerca que se encontra atrás do irmão de camisa preta visto na foto abaixo:


Evangelistas - Lucas Filho

A colheita de almas

Se acompanha desde a nossa primeira postagem do Diário de um evangelista, deve ter lido sobre: Um abraço vale mais que mil palavras, um desmembramento do texto (veja a postagem 01). No texto, descrevo sobre a vontade de abraçar um dos jovens que estavam lá na minha primeira visita.

Depois de ter voltado para o local onde iríamos permanecer, encontrei um dos jovens que evangelizamos no sábado anterior. E o relato dele me fez desabar chegando a me agachar, pois não aguentava ficar de pé.

Ele nos contou que dentre os jovens havia dois que eram primos. Um deles foi o rapaz que abracei e outro, quando saímos, chegou a blasfemar, afirmando que “o que manda é o que se tem na cintura” – uma referência do tipo, que tem uma arma pode tudo.

Na mesma noite, este jovem foi assassinado e o seu primo só não teve o mesmo fim pelo fato de ter se atrasado em encontra-lo. Mas “a colheita da alma” não se atrasou.

Fiquei então pensando na oportunidade que este jovem pode ter perdido quando estávamos evangelizando. Acreditando em Deus, posso supor o que o aguarda. Prefiro supor, pois só Deus pode saber o que vai acontecer com ele e não cabe a mim afirmar nada sobre a vida após a morte.


Quem evangeliza também aprende

Um dos irmãos, deu seu testemunho de como ele era antes de aceitar a Cristo. Me reservo no silêncio sobre o seu testemunho pois não falei com ele se poderia colocar aqui o que ouvi dele. Confesso que me deu arrepios na hora e que, se o mesmo autorizar, pretendo fazer uma postagem sobre o seu testemunho.

Antes de seu testemunho, este irmão convidou a todos para ouvir uma música do seu celular a música era: Confissão – Chagas Sobrinho (Veja abaixo):


E no momento em que todos estavam se aproximando e a ouvindo a música, um dos moradores pediu a outro que por lá estava, que pegasse o “amplificador”. Confesso que na hora pensei em uma caixa de som, mas como eles teriam uma caixa de som naquelas condições? Foi quando, do chão, um jovem pegou metade de uma garrafa pet de 600ml. Quando vi aquilo pensei: “Ele já está fazendo ora (nos tirando).” Mas para o espanto de todos, ao ser colocada a boca da garrafa sobre o autofalante do celular, o som teve um grande ganho de volume. Não aguentei, despejei uma sonora gargalhada e tirei uma foto do ocorrido.

Autofalante - Lucas Filho

Evangelizar não é por força

Um dos moradores que ficamos conversando, nos revelou que outros irmãos já passaram por lá para evangeliza-los. Entretanto, colocavam as mãos em sua cabeça e ficavam gritando palavras para expulsão de demônios. Já outros diziam que ele deveria aceitar a Jesus Cristo como seu salvador naquele momento pois iria – se assim não fizesse, pro inferno.

Ouvi dele um elogio de como nós fazemos diferente. Ele até brincou: “É só no sapatinho... vocês falam e ao pouco vai entrando no coração ‘do nego’ a palavra.

Quantos então não aceitam a Palavra de Deus por já terem tido experiências desastrosas com outros irmãos? Quantos têm uma verdadeira repulsa de evangélicos pois nos enxergam como loucos que gritão? Por isso irmãos, peço que avaliem o modo de como falam de Deus para com as pessoas. Não encontramos Jesus Cristo gritando para os pecadores sobre o arrependimento, muito pelo contrário, o amor para com eles foi a melhor forma de levar a sua mensagem.


Um contato para quem sabe uma decisão

Já estávamos nos despedindo quando foi solicitado um contato por telefone, para quem sabe, marcarmos um dia na nossa igreja. Um dos irmãos deixou o número do seu celular com eles. E fomos até onde estavam as crianças.

Pegamos o restante das cestas básicas e alguns lanches, voltamos e distribuímos entre aqueles que estávamos conversando.

Ao nos despedirmos novamente recebemos novamente a gratidão deles e a frase: “Vocês são bem vindos aqui.” Frase esta que já foi dita no encontro anterior por eles, mostrando que não foi por causa dos alimentos do corpo, mas da alma é que nos tornamos “bem vindos”.


Uma comunidade colorida

Me aproximei de um dos moradores e perguntei o que ele achava se eu conseguisse tintas e pessoas em um mutirão para pintar os barracos. Ele me respondeu que lonas seriam mais interessante, pois quando chove todos se molham. Mas disse que a pintura também seria uma boa ideia.

Eu imaginei cada barraco de uma cor diferente, contrastando com o aterro. Uma visão psicodélica talvez chamasse a atenção das autoridades para eles. Há casas sendo construídas bem perto deles, mas segundo a comunidade, não é garantia que eles irão para lá, pois: “as casas são muito luxuosas.” - afirmou um deles. Verdade. Para quem ver de perto as casas que eles se encontram, qualquer casa de 10m² é um casarão. Veja uma das casas da comunidade e tente descobrir onde é a porta.


A porta - Lucas Filho
As casas pintadas poderiam ficar assim

Casas Pintadas - Lucas Filho

A volta para casa

Nunca me senti tão útil em toda a minha vida. Me perdoem os meus alunos dos cursos de informática, ou das palestras de motivação que realizo, mas começo a me sentir verdadeiramente "Homem-humano". É uma força que me move na manhã seguinte, nem um traço de cansaço, nada que poderia me fazer reclamar da vida.

Chegar em casa e ver minha esposa grávida e meu filho e depois de um banho ver o quanto sou feliz, sou rico, é verdadeiramente uma coisa que só quem vive momentos assim pode falar. É indescritível o que eu sinto no dia seguinte. O amor para com as pessoas a vontade de orar, conversar com Deus. Não questioná-lo pela situação daquela comunidade, mas pedir forças para que eu possa fazer parte da mudança na vida delas, para que eu possa fazer a diferença no futuro de cada adulto e criança.

Sei que esta postagem não tem o alcance que eu gostaria que tivesse. Quem sabe se o título no FaceBook fosse alterado para: “Volta Luiza”; “Ronaldinho gordinho” ou “Hoje é sexta”, rodasse pelas muitas páginas de usuários fazendo com que os meus seguidores - que se quer eonheço pessoalmente, curtissem e comentassem e quem sabe assim, ao invés de amigos virtuais, eu teria irmãos presenciais ajudando no evangelismo.

Mas sei que um dia, alguém vai ler este texto e isto vai fazer a diferença em sua vida. E mesmo que eu não saiba disso, o simples fato de passar 30 minutos digitando estas palavras e fazendo as correções nas fotografias terão valido muito para a minha vida.

Mais algumas fotos


Diversos - Lucas Filho

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