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Obs: O texto é longo, mas vale cada palavra lida. Alguns trechos relacionados as canções foram excluídos.
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Um sermão pregado na manhã de
Domingo 30 de Setembro, 1860, por Charles Haddon Spurgeon, no Exeter Hall,
Strand, Londres.
Se a vida de um cristão pudesse ser comparada a um
sacrifício, então a humildade cava a base, a fundação para o altar; a oração
traz as pedras não lavradas e as empilham umas sobre as outras; a penitência
enche de água o rego ao redor do altar; a obediência ordena a madeira; a fé
argumenta com Jeová-Jireh, e coloca a vítima sobre o altar; porém o sacrifício
está incompleto até este momento, pois, onde está o fogo? O amor, só o amor
pode consumar o sacrifício provendo o necessário Fogo Celestial.
Independentemente do que nos falte em nossa piedade, assim como é indispensável
que tenhamos fé em Cristo, assim também é absolutamente imprescindível que
amemos a Cristo. O coração que está desprovido de um sincero amor por Jesus,
ainda está morto em seus delitos e pecados. E se alguém se atreve a afirmar que
tem fé em Cristo, porém não O ama, nós, imediatamente, ousaríamos declarar
categoricamente que sua religião é vã.
Talvez a grande carência da
religião de nossos tempos seja o amor. Algumas vezes considero o mundo em
geral, e a Igreja que está muito comprometida em seu meio, e eu tendo a pensar
que a igreja tem luz, mas carece de fogo. Ela tem alguns níveis de fé
verdadeira, um conhecimento claro, e muitas outras coisas que são preciosas,
todavia carece, em grande medida, deste amor ardente, com o qual ela outrora,
como uma virgem casta, caminhou com Cristo através do fogo do martírio; quando
ela mostrou a Ele seu imaculado, inextinguível amor, nas catacumbas da cidade e
nas cavernas das rochas; quando a neve dos Alpes podia testificar acerca da
pureza virginal do amor dos santos, pela mancha escarlate que mostrava o
derramamento de seu sangue na defesa de nosso sagrante Senhor – sangue que foi
derramado em defesa dAquele a quem, ainda que não houvessem visto Seu rosto
“incessantemente adoravam”.
Minha agradável tarefa no dia de
hoje é motivar as suas mentes conhecedoras da verdade, para que, como parte da
igreja de Cristo, de alguma maneira vocês sintam hoje amor a Ele em seus
corações, e possam dirigir-se a Ele, não somente com o título: “Oh tu, em quem
confia minha alma”, mas também: “Oh tu, a quem ama a minha alma”. No domingo
passado, se recordam, falamos acerca da fé simples, e procuramos pregar o
Evangelho aos ímpios. Nesta hora, nos dedicaremos a falar da chama do amor
puro, nascido do Espírito, semelhante a Deus, a divina chama do amor.
Ao refletir sobre meu texto, eu o
considerarei desta maneira: primeiro, vamos escutar a retórica dos lábios, tal
como lemos nestas palavras: “Oh tu a quem ama a minha alma”. Em seguida,
analisaremos a lógica do coração, que nos justifica em dar um título como este
a Cristo. E em terceiro lugar, vamos chegar a algo que ultrapassa inclusive a
retórica e a lógica – a absoluta demonstração na vida diária. E rogo que
sejamos capazes de provar constantemente, por meio de nossas ações, que Jesus
Cristo é Ele, a quem amam as nossas almas.
I – Então, primeiro, devemos considerar que o amoroso título de
nosso texto expressa a RETÓRICA DO LÁBIO. O texto chama a Cristo: “Tu a quem
ama a minha alma”. Tomemos este título e façamos em certa medida sua
dissecação.
Uma das primeiras coisas que
chama a nossa atenção, quando nos dispomos a analisá-lo, é a realidade do amor
que é aqui expressado. Eu digo realidade – entendendo o termo “real”, não em
contradição com o que é falso ou fictício – mas em contraste com o que é
duvidoso e incerto. Não veem que a esposa fala aqui de Cristo como de alguém
que ela sabia que realmente existia? Não como uma abstração, mas como uma
Pessoa. Ela fala dEle como uma pessoa real, “tu a quem ama a minha alma”. Bem,
estas parecem ser as palavras de uma mulher que O está apertando contra seu
peito, que O vê com seus olhos, que segue ativamente suas passadas, que sabe
quem Ele é, e que Ele recompensará o amor que O busca diligentemente.
Irmãos e irmãs, frequentemente há
uma grande deficiência em nosso amor a Jesus. Não cremos na realidade da Pessoa
de Cristo. Pensamos em Cristo, e logo amamos o conceito que temos formado dEle.
Porém, oh, quão poucos cristãos veem seu Senhor como uma pessoa real como nós
mesmos – homem verdadeiro: um homem que sofreu, um homem que morreu, carne
substancial e sangue – Deus verdadeiro tão real como se não fosse invisível, e
tão verdadeiramente existente como se pudéssemos compreendê-lo em nossas
mentes. Nós precisamos que o Cristo real seja pregado mais plenamente, e que
seja amado mais plenamente pela Igreja.
Falhamos em nosso amor porque
Cristo não é real para nós como foi para a Igreja primitiva. A Igreja primitiva
não pregava muita doutrina. Eles pregavam a Cristo. Pouco falavam das verdades
relativas a Cristo; pregavam o próprio Cristo, Suas mãos, Seus pés, Seu lado,
Seus olhos, Sua cabeça, Sua coroa de espinhos, a esponja, o vinagre, os cravos.
Oh, anelamos o Cristo de Maria Madalena, mais do que o Cristo do teólogo
analítico; deem-me o corpo ferido da Divindade, em vez do mais sadio sistema de
teologia. Permitam-me explicar-lhes o que quero dizer.
Suponham que um bebê fosse
arrebatado de sua mãe, e vocês buscassem fomentar nele o amor por sua
progenitora, mostrando-lhe constantemente o retrato da ideia de uma mãe –
procurando imbuí-lo o pensamento sobre a relação de uma mãe com seu filho. Em
verdade, meus amigos, eu creio que vocês teriam uma tarefa difícil se intentam
estabelecer no menino o amor verdadeiro e real que deveria sentir pela mãe que
lhe deu a luz. Porém, deem uma mãe a esta criança, que seja embalado pelo peito
real desta mãe, que seja nutrido de alimento pelo próprio coração da mãe; que
veja sua mãe; que sinta a mãe; que ponha seus bracinhos ao redor do pescoço
real da mãe, e então não teriam uma difícil tarefa para que amasse tal mãe.
O mesmo sucede com o cristão.
Necessitamos de Cristo – Não um Cristo pintado, abstrato e doutrinal – Mas um
Cristo real! Eu poderia pregar-lhes durante muitos anos, procurando infundir em
suas almas um amor a Cristo; porém, enquanto, não sentirem que Ele é um homem
real e uma Pessoa real, realmente presente com vocês, e a quem podem falar-Lhe,
conversar com Ele, e comentar de suas necessidades, não alcançariam facilmente
um amor semelhante ao do texto, de tal maneira que poderiam dizer-lhe: “Tu a
quem ama a minha alma”.
Cristão, quero que sinta, que teu
amor por Cristo não é uma mera afeição religiosa, mas, que, assim como amas a
tua esposa, assim como amas a teu filho, como amas a teus pais, assim amas a
Cristo; ainda que o teu amor a Ele seja de uma forma mais refinada, e de um
modo mais elevado, contudo, é tão real como o de uma paixão terrena.
Permita-me, sugerir-lhes outra figura. Uma guerra é deflagrada na Itália pela
causa da liberdade. O simples pensamento de liberdade alimenta o soldado. O
pensamento de herói converte o homem em herói!
Ainda que eu fosse e me pusesse
entre o exército e lhes anunciasse acerca do que devem ser os heróis, e o que
devem ser os homens valentes que lutam pela liberdade, meus queridos amigos, a
eloquência mais zelosa teria pouco poder. Porém ponham diante destes homens um
Garibaldi – o heroísmo encarnado – ponham diante de seus olhos esse homem
enaltecido, semelhante a um antigo romano recém-saído de sua tumba, e veriam
diante deles o significado da liberdade, e o que a ousadia significa, o que a
coragem pode experimentar, o que o heroísmo pode realizar! E inflamados por sua
presença real, seus braços se fortaleceriam, suas espadas se aguçariam, e se
lançariam à batalha com presteza; sua presença asseguraria a vitória, porque
pela sua presença compreenderiam o pensamento que torna os homens corajosos e
fortes.
Da mesma maneira, a Igreja
necessita sentir e ver um Cristo real em seu meio! Não é a ideia de desapego,
não é a ideia de devoção; não é a ideia da autoconsagração o que tornará
poderosa a Igreja: tem que ser esta ideia Encarnada, consolidada, Personificada
na existência verdadeira de um Cristo real no acampamento dos exércitos do
Senhor. Eu oro por vocês, e peço que vocês orem por mim, para que cada um de
nós tenha um amor no qual Cristo seja uma realidade e que se possa dizer a Ele
Assim: “Tu a quem ama a minha alma”.
Porém, novamente, olhem para o
texto e percebam claramente, algo mais. A Igreja, na expressão que utiliza
referente à Cristo, não fala unicamente com uma consciência de Sua Presença,
mas sim com uma firme segurança de seu próprio amor. Muitos de vocês, que
efetivamente amam a Cristo, raras vezes podem ir mais adiante e dizer: “Oh Tu a
quem minh’alma deseja amar! Oh Tu a quem espero amar!” Porém esta frase não diz
isso, absolutamente. Esta expressão não encerra a menor sombra de dúvida ou
medo: “Oh Tu a quem ama minha alma!”.
Acaso não é uma circunstância
feliz para um filho de Deus que sabe que ama a Cristo? Que possa falar do tema
como um assunto de consciência? Que é algo a que não se podem contrapor todos
os arrazoamentos de Satanás? Que é algo pelo qual pode colocar sua mão em seu
coração e apelar a Jesus e dizer: “Senhor, Tu sabes Tudo; Tu sabes que eu Te
amo” [Jo 21:17]. Pergunto: Acaso não é este um prazeroso estado de espírito? Ou
melhor, inverto a pergunta: Acaso não é miserável a condição do coração quando
falamos de Jesus de uma maneira que não reflete um afeto seguro?
Ah, meus irmãos e irmãs, podem
vir tempos nos quais o coração mais amante tenha dúvidas acerca de seu amor,
provenientes do próprio fato de que ama intensamente e ama sinceramente. Porém,
esses tempos serão tempos de angústia, ocasiões de examinar cuidadosamente a
alma, noites de aflição. Aquele que ama verdadeiramente a Cristo não permitirá
que seus olhos se fechem, nem que dormitem suas pestanas, enquanto tenha
dúvidas de que seu coração pertença a Cristo. “Não” – disse – “este é um
assunto demasiado valioso para mim e devo questionar-me se realmente possuo
amor ou não, isto é algo tão vital, que não o posso passar por alto com um
‘talvez’, como um assunto de sorte. Não, devo saber se amo a meu Senhor ou não,
se sou Seu ou não”.
Se estou me dirigindo a alguém no
dia hoje que tenha dúvidas de amar a Cristo, mas deseje fazê-lo, te suplico,
meu querido amigo, não permanece tranquilo em seu estado mental presente; Nunca
esteja satisfeito enquanto não saibas que estás apoiado na Rocha, e enquanto
não estejas absolutamente seguro que, em verdade, amas a Cristo.
Imaginem por um momento que algum
dos apóstolos houvera dito a Cristo que cria que Lhe amava. Imagine por um
instante que sua própria esposa lhe dissesse que ela esperaria amá-lo. Imaginem
o seu filho, sentado em seus joelhos, dizendo-lhes: “pai, creio que te amo, às
vezes.” Isto equivaleria a que lhes dissesse algo muito doloroso! Sentiriam o
mesmo que lhe houvesse dito: “Te odeio!”. Por quê? O que acontece? Acaso
aquele, a quem cuido tanto, simplesmente pensa que me ama? Acaso a filha, que
aperto contra meu peito, duvida, e faz tema de conjectura, se seu coração é meu
ou não? Oh Deus não queira nem que sonhemos que tal coisa nos suceda em nossas
relações comuns da vida! Então, a que se deve que a toleramos em nossa piedade?
Acaso não se trata de uma piedade enferma e piegas? Não é um mórbido estado do
coração, o que nos conduz sempre a esta condição? Acaso não é da mesma forma
uma condição mortal do coração a que permite nos contentarmos com isto? Não,
não podemos estar tranquilos até se sejamos conduzidos à segurança e à certeza,
mediante a obra completa do Espírito Santo, para que possamos dizer com uma
língua convicta: “Oh Tu a quem ama a minha alma”.
Agora, notem algo mais,
igualmente digno de nossa atenção. A Igreja, a esposa, quando fala assim de seu
Senhor, dirige nossos pensamentos não simplesmente à sua confiança de amor, mas
à unidade de seus afetos com relação a Cristo. Não tem dois amantes, senão Um
só. A Igreja não diz: “Oh Vocês nos quais está posto meu coração!”, Diz:
“Oh Tu!”, não tem senão Um por quem seu coração suspira. Tem juntado seus
afetos em um ramalhete e os tem convertido em somente um afeto, e logo tem
colocado este monte de mirra e de especiarias sobre o peito de Cristo. Ele é
para a igreja o “Totalmente Desejável”, a soma de todos os amores que uma vez
andaram dispersos. Tem posto diante do sol de seu coração um espelho ustório1 que
reuniu todos os raios de seu amor em um foco, e todo o seu amor está
concentrado, como todo seu calor e sua veemência, no próprio Cristo Jesus. Seu
coração, que uma vez semelhava-se a uma fonte da qual brotavam muitos ribeiros
se tornou um fonte que somente conta com uma vertente para as suas águas. Tapou
todas as outras saídas, cortou todas as outras vias, e agora o ribeiro, provido
de uma forte corrente, corre a Ele e unicamente a Ele.
A Igreja, em nosso texto, não é
uma adoradora de Deus e também de Baal; ela não é uma contemporizadora que
tenha um coração para todos os que a assediem. Não é com a rameira, cuja porta
está aberta para qualquer caminhante; mas ela é como a mulher casta, que não vê
a ninguém senão a Cristo, e não conhece a quem sua alma deseje, com exceção do
Senhor crucificado.
A esposa de um nobre persa foi
convidada para participar da festa de casamento do rei Ciro. Em seu retorno, o
marido perguntou animadamente se não considerava que o noivo-monarca era um
homem muito nobre. Sua resposta foi: “Eu não sei se é nobre ou não, o meu
esposo estava tão nobre diante dos meus olhos, que não vi ninguém senão ele, eu
não vi nenhuma beleza senão nele”. Assim, se perguntarem à alma cristã do nosso
texto: "Não é fulano de tal formoso, amável?”, “Não”, ela responde – “meus
olhos estão fixos em Cristo. Meu coração é tão entregue a Ele, que desconheço
se existe beleza em outro lugar – Eu sei que toda a beleza, e todo encanto se
resumem nEle.”
Sir Walter Raleigh costumava
dizer: “se todas as histórias dos tiranos, a crueldade, o sangue, a
concupiscência, a infâmia, todos fossem esquecidos, todas essas histórias
poderiam ser reescritas novamente com base na vida de Henrique VIII.” E eu
poderia dizer para contrastar: “Se todo o bem, todo o amor, toda a bondade,
toda a fidelidade que já existiu fossem completamente esquecidos, tudo poderia
ser reescrito baseado na história de Cristo.” Cristo é o único que ama a alma
do cristão; o cristão não possui diversos, nem dois amantes; fala dEle como de
alguém a quem deu todo o seu coração, e ninguém participa desta entrega. “Oh Tu
a quem ama a minha alma.”
Respondam, irmãos e irmãs, amamos
a Cristo dessa maneira? O amamos de tal forma que podemos dizer: “Em
comparação com o nosso amor por Jesus, todos os outros amores são como nada”? É
verdade que temos estes doces amores que tornam a terra querida para nós;
realmente amamos nossos parentes segundo a carne, pois estaríamos abaixo dos
animais se não os amássemos. Mas, alguns de nós podem afirmar: “Nós, em
verdade, amamos a Cristo mais do que o marido ou a esposa, do que o irmão ou a
irmã”. Às vezes, poderíamos dizer como São Jerônimo:
“Se Cristo me ordenasse ir por este caminho, e se minha mãe se pendurasse no meu pescoço para me levar para outro caminho, e se meu pai estivesse no meu caminho, implorando de joelhos e com lágrimas nos olhos que eu não fosse, e se meus filhos, agarrando-se às minhas pernas, me procurassem levar por outro caminho, eu me escaparia da minha mãe, empurraria o meu pai ao chão, e iria deixar os meus filhos, pois devo seguir a Cristo.”
Nós não podemos dizer a quem
amamos mais enquanto eles não entrem em conflito. Mas quando passamos a ver que
o amor dos mortais requer que façamos isto, e o amor de Cristo, que
façamos o oposto, então nós saberemos a quem amamos mais.
Oh, os dias dos mártires foram
muito difíceis! Este bom homem, por exemplo, o Sr. Nicholas Ferrar, que era pai
de doze filhos, todos pequenos. Seus inimigos haviam concebido o plano de que
sua esposa deveria encontrá-lo acompanhada por todos os seus filhos, a caminho
da fogueira. Ela os colocou todos de joelhos em uma fila ao longo da rua. Seus
inimigos esperavam que neste momento seguramente ele se retrataria, e que
buscaria salvar a sua vida por causa de seus amados filhos. Mas, não! Não! Ele
já tinha se entregado a Deus, e poderia confiá-los ao seu Pai celestial, mas
não podia fazer nada de errado, nem mesmo pela felicidade de cobrir estes
passarinhos debaixo das suas asas e protegê-los com as suas penas. Atraiu cada
um para o seu peito, e olhou para cada um, uma e outra vez, e aprouve a Deus
colocar na boca de sua esposa e de seus filhos palavras de encorajamento ao
invés de desânimo, para ele, e antes de separar-se deles, seus filhos pediram a
seu pai que se esforçasse e que morresse bravamente por Cristo Jesus!
Sim, amigos, devemos ter um amor
como este, que não tenha um rival, que não possa ser dividido – que é como uma
maré alta – outras marés podem subir muito ao longo da costa, mas esta vem para
cima e atinge as próprias rochas e as golpeia ali, enchendo nossas almas até a
[própria] borda. Eu peço a Deus para que possamos conhecer o que significa um
amor a Cristo como este.
Além disso, quero lhes colher
outra flor. Se veem a expressão diante de nós, terão que aprender não só a sua
realidade, ou sua segurança, ou a sua unidade; também terão que perceber sua
constância: “Oh Tu, a quem ama a minha alma.” Não “que amava ontem”, ou, “que
pode começar a amar amanhã”, mas “Tu, a quem ama a minha alma”, “Tu a quem eu
tenho amado desde que Te conheci, e cujo amor tornou-se tão necessário quanto a
minha respiração vital ou o meu ar básico.”
O verdadeiro cristão é alguém que
ama a Cristo para sempre. Não Joga “cabo de guerra” com Jesus, pressionando-o
hoje contra o peito para, logo em seguida, virar-se e buscar a qualquer Dalila
que possa contaminá-lo com suas feitiçarias. Não, ele sente que é um Nazireu
para o Senhor, ele não pode e nem será contaminado pelo pecado, em nenhum
momento, em nenhum lugar. O amor a Cristo no coração fiel é como o amor da
pomba por seu parceiro; ela, se o seu parceiro morre, não pode ser tentado a se
casar-se com outro, mas ela ainda fica sobre seu poleiro e suspira a sua alma
triste até que ela morra também.
O mesmo sucede com o Cristão; se
não tivesse a Cristo para amar, ele teria que morrer, porque seu coração
tornou-se de Cristo. E assim, se Cristo se vai, o amor não existiria, então seu
coração iria também, e um homem sem coração é um homem morto. Não é o coração o
princípio vital do corpo? E o amor, não é o princípio vital da alma? No
entanto, existem alguns que professam amar ao Senhor, mas unicamente caminham
com Ele aos empurrões, e depois saem errantes como Diná nas tendas dos
siquemitas.
Oh prestem atenção, vocês
professos, que procuram ter dois maridos! Meu Senhor nunca vai ser um
meio-marido. Ele não é daqueles que aceitaria ter a metade de seu coração. Meu
Senhor, mesmo ainda que cheio de compaixão e muita ternura, tem um espírito
nobre demais para ser meio-proprietário de qualquer reino.
Canuto, o rei dinamarquês,
dividiu a Inglaterra com o rei Edmundo Ironside, porque ele não conseguia
conquistar todo o país, mas o meu Senhor vai possuir cada centímetro seu, ou
não quererá nenhum! Ele reinará em você de um extremo da Ilha do homem até o
outro, caso contrário não teria sequer um pé sobre o solo do seu coração. Ele
nunca foi proprietário de metade de um coração, e Ele não se rebaixaria a algo
assim.
O que disse o velho puritano? “Um
coração é algo tão pequeno que mal serve de café da manhã para um pássaro, e
você diz que é muito grande para Cristo possuí-lo todo?” Não, entregue-o
inteiramente a Ele. É pouquíssima coisa quando você considera o Seu mérito, e
muito pequeno quando comparado à Sua amabilidade. Dê-lhe tudo! Que todo o seu
coração, sua indivisível afeição seja constantemente, a cada hora, entregue a
Ele.
Que seja esta a sua porção,
constante, mantendo-se nAquele que os amou.
Farei apenas mais uma observação,
para não cansá-los, tentando dissecar desta forma, a retórica do amor.
Claramente perceberão em nosso texto a veemência do afeto. A esposa diz de
Cristo: “Oh Tu, a quem ama a minha alma.” Ela não quer dizer que o ama um
pouco, que o ama com uma paixão comum, mas ela O ama em todo o profundo sentido
da palavra.
Oh, homens e mulheres cristãos,
protesto diante de vocês que eu temo que há milhares de [cristãos] professos
que nunca conheceram o significado da palavra “amor” em relação a Cristo. Eles
o têm conhecido no que se refere aos mortais, sentiram sua chama, viram como
cada poder do copo e da alma são impulsionados pelo amor, mas não o tem
conhecido em relação a Cristo.
Eu sei que podem pregar sobre
Ele, mas vocês O amam? Eu sei que podem orar a Ele, mas vocês O ama? Eu sei que
vocês confiam nEle – ou pelo menos pensam que é assim – mas vocês O amam? Oh,
há em seu coração um amor por Jesus semelhante à mulher, que disse: “Oh,
beije-me ele com os beijos da sua boca, porque o seu amor é melhor do que o
vinho.” “Não”, você diz, “isso é muito íntimo para mim.” Então, eu tenho medo
que você não ama, porque o amor é sempre íntimo. A fé pode permanecer a uma
distância, pois seu olhar é salvador, porém a esposa amorosa se achega, pois,
deve beijar e abraçar.
Oh, Amado, às vezes o cristão ama
tanto o seu Senhor, que a sua linguagem se torna sem sentido para os ouvidos de
outras pessoas que nunca experimentaram o seu estado!
O amor tem sua própria linguagem
celestial, e às vezes eu ouço a alma cristã falando de modo que os lábios dos
mundanos zombam e os homens têm dito: “Esse homem delira e fala disparates: não
sabe o que diz.” Por esta razão, o amor muitas vezes se torna um Místico, e
fala em linguagem mística, na qual não participa o estranho. Oh, você deveria
ver a Alma amante quando seu coração está cheio com a Presença de seu Salvador,
quando sai do seu tálamo de noiva! Na verdade, é como um gigante refrescado com
vinho novo.
Eu a tenho visto derrubar
dificuldades, andando em ferro quente de aflição, mas seus pés não foram
queimados; eu a tenho visto levantar sua lança contra dez mil, e ela os matou
de um só golpe. Eu a vi renunciar a tudo que tinha, a despojar-se, por Cristo,
e ainda tornou-se mais rica, e ia sendo ataviada com ornamentos enquanto ela
fez a si mesma pobre, para poder lançar-se sobre o seu Senhor, e dar-lhe tudo.
Irmãos e irmãs cristãos, vocês
conhecem este amor? Eu sei que alguns de vocês conhecem, porque têm sido
claramente evidenciado em suas vidas. Quanto aos demais, eu espero que vocês
possam aprendê-lo, de modo que estejam acima da baixa posição que ocupa a
maioria da Igreja de Cristo nos dias de hoje.
Levante-se dos lamaçais e brejos
e pântanos de mornidão de Laodicéia, e levantem-se! Elevem-se acima do cume do
monte, onde terão suas frontes banhadas pela luz do sol, observando a terra
aqui em baixo – com suas próprias tempestades [da terra] sob seus pés, e suas
nuvens, e suas sombras para o vale, enquanto falam com Cristo, que fala com
vocês das nuvens – são quase arrebatados ao terceiro Céu para habitar com Ele
ali.
Assim, eu tentei explicar a
retórica do meu texto: “Oh Tu, a quem ama a minha alma.”
II – Agora, permitam-me abordar A LÓGICA DO CORAÇÃO, que está por
detrás do texto. Coração meu, por que você deve amar a Cristo? Com que
argumento te justificarás? Os estranhos estão ali e me ouvem falar de Cristo, e
dizem: “por que você ama o teu Salvador assim? Coração meu, você não pode
responder como para fazê-los ver Seu encanto, pois eles estão cegos, mas pelo
menos podes ser justificado aos ouvidos daqueles que têm entendimento, pois,
sem dúvida, as virgens lhe amariam, se lhes dissesse por que você O ama.
Nossos corações dão como razão de
seu amor a Ele, primeiro o seguinte: Nós O amamos por Seu encanto infinito. Se
não houvesse outra razão, se Cristo não nos houvesse comprado com o Seu sangue,
nós ainda sentimos que se tivéssemos corações regenerados, deveríamos amá-lO
porque Ele havia morrido por outros.
Às vezes, eu tenho sentido na
minha própria alma, deixando de lado o benefício que recebi pela Sua amada cruz
e por Sua preciosíssima paixão, o que, supostamente, deve ser sempre o mais
profundo motivo de amor. “Nós o amamos, porque Ele nos amou primeiro” [1 João
4:19], mas deixando isso de lado, há tal beleza no caráter de Cristo, tal
encanto em sua paixão, tanta glória nesta abnegação, que é um dever amá-lO.
Eu posso olhar em Teus olhos e
não ser atingido por Teu amor? Posso contemplar a Tua cabeça coroada de
espinhos sem que meu coração sinta os espinhos em seu interior? Posso ver-Te na
febre da morte sem que arda a minha alma com a febre do amor apaixonado por Ti?
É impossível ver a Cristo, e não amá-lO; você não pode estar em Sua companhia
sem sentir imediatamente que está ligado a Ele.
Vá e se ajoelhe ao Seu lado no
jardim do Getsêmani, e estou certo de que, enquanto as gotas de sangue caem ao
chão, cada uma delas será uma razão irresistível para amá-lO! Ouçam-nO gritar:
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Lembrem-se que Ele suportou isto
por amor aos outros, e terão que amá-lO.
Se vocês já leram alguma vez a
história de Moisés, o consideram o maior dos homens, e o admiraram, e o
olhariam como um grande colosso, algum gigante vitorioso dos tempos antigos.
Porém vocês nunca sentiram uma partícula de amor em seus corações por Moisés;
nem poderiam – ele é um caráter que não se pode amar- há algo para se admirar,
mas nada que gere apego.
Quando veem a Cristo, olham para
cima, no entanto, fazem mais do que isso – vocês sentem-se atraídos! Não
admiram tanto, mas o amam; vocês não O admiram tanto quanto O amam; não adoram
tanto, mas abraçam; Seu caráter encanta, subjuga, supera, e com o impulso
irresistível da própria atração de seu caráter sagrado, atrai diretamente o seu
espírito a Ele. Bem disse o Dr. Watts2:
"Seu valor, se todas as nações conhecessem, Certamente toda a terra O amaria também.”
Mas a Alma amante tem ainda outro
argumento para amar a Cristo, isto é, o Amor de Cristo por ela. Amarias Tu a
mim, Jesus, Rei dos Céus, Deus dos anjos, Senhor de todos os mundos; fixaste
Teu coração em mim? Como? Amaste-me desde os tempos antigos, e na eternidade me
elegeste para Ti? Seguiste a me amar enquanto as eras se sucediam? Desceste do
céu à terra para ganhar-me para ser Tua esposa, e me amas de tal maneira que
não me deixa só neste pobre mundo desértico? E hoje mesmo estás preparando uma
casa para mim, onde eu vou morar contigo para sempre? Senhor, eu viria a ser um
homem muito miserável se não sentisse amor por Ti. Devo amar-te, é impossível
resistir, este pensamento de que Tu me amas levou minh’alma a amar-Te!
A mim! A mim! O que havia em mim?
Poderias ver algo belo em mim? Eu mesmo não vejo nada, meus olhos estão
vermelhos de tanto chorar, por causa da minha escuridão e da minha deformidade;
eu disse para os filhos dos homens: “Não olheis para o eu ser morena; porque o
sol resplandeceu sobre mim” [Cânticos 1:6]. E Tu vês belezas em mim? Que visão
rápida Tu tens – não, mas bem deve ser que Tu tenhas feito dos meus olhos Teu
espelho, e Tu vês a Ti mesmo em mim, e é a Tua imagem que amas – com certeza Tu
não poderias amar-me! É um texto arrebatador este de Cântico dos Cânticos, onde
Jesus diz à esposa. “Tu és toda formosa, amiga minha, e em ti não há mancha”.
Você pode imaginar que Cristo lhe diga isto? E, no entanto, lhe disse: “Tu és
toda formosa, amiga minha, e em ti não há mancha”, tirou sua negrura, e está em
Sua presença tão limpa como se nunca houvesse pecado, e tão cheia de encanto
como se fosse o que serás quando, finalmente, será semelhante a Ele.
Oh, irmãos e irmãs, alguns de
vocês podem dizer, com ênfase: “Ele me amou? Então eu devo amá-lO.” Eu percorro
com os meus olhos as fileiras de assentos, e vejo ali um irmão que ama a Cristo
agora, mas há alguns meses atrás, O maldizia. Ali se senta um bêbado, lá outro
que esteve preso por crimes; e Ele amou a vocês, sim, a vocês; a vocês que
insultavam a esposa de Seu coração, porque ela amava o adorado Nome! Vocês
nunca eram mais felizes do que quando violavam seu dia, e mostravam desrespeito
a seus ministros, e manifestavam ódio à Sua causa, apesar de tudo isso, Ele os
amou.
E a mim! Inclusive a mim!
Ignorando as orações de uma mãe, apesar das lágrimas de um pai, tendo muito da
Luz de Deus, e não obstante, pecando, Ele me amou, e me mostrou o Seu amor.
Eu te conjuro, oh coração meu,
pelas gazelas e cervas do campo, que te entregues inteiramente ao meu Amado!
Que gastes e seja gasto por amor a Ele! Acaso é esta a conjuração do teu
coração no dia de hoje? Oh, deve sê-lo, se conhecesses a Jesus, e em seguida
soubesses que Jesus te ama! A alma amante nos dá uma razão ainda mais poderosa.
Ela sente que deve entregar-se a Cristo, pelo sofrimento de Cristo por
ela.
Quando minha vida se desvanecer,
isto poderia levar-me a perder as minhas faculdades mentais, mas a memória não
amará a nenhum outro Nome, mas somente ao que está registrado ali. As agonias
de Cristo gravaram com fogo o Seu Nome em nosso coração; você não pode assistir
e ver como O desprezam os homens de guerra de Herodes, você não pode
contemplá-lO desprezado e cuspido por lábios servis; não pode vê-lO com cravos
traspassando Suas mãos e Seus pés; você não pode assistí-lO no meio das agonias
extremas de Sua terrível paixão, sem dizer: “E Tu sofreste tudo isso por mim,
então eu devo amar-Te, Jesus. Meu coração sente que ninguém tem direito sobre
ele como Tu o tens, porque ninguém mais tem se entregado a mim como Tu o fez.
Outros podem ter buscado comprar o meu amor com a prata da afeição terrena, e
com o ouro de um caráter zeloso e afetuoso, porém Tu o compraste com o Teu precioso
sangue, e Tu tens o mais pleno direito a ele – será Teu, e isto para sempre!”
Esta é a lógica do amor. Eu posso
muito bem ficar aqui e defender o amor do crente por Seu Senhor. Eu gostaria de
ter mais para defender do que eu tenho. Atrevo-me a deter-me aqui para defender
as supremas extravagâncias da eloquência, e as mais loucas ações de fanatismo,
quando foram feitas por amor a Cristo.
Mas, repito, eu somente desejaria
ter mais o que defender nestes tempos degenerados. Algum homem tem renunciado a
tudo por Cristo? Eu lhes mostraria que ele é sábio se renunciou a tudo por
alguém como Cristo. Um homem morreu por Cristo? Escreva sobre seu epitáfio que,
certamente, ele não foi um néscio, pois ele teve a sabedoria de entregar o seu
coração por Um a quem traspassaram o coração por sua causa.
Que a Igreja fosse extravagante
somente por uma vez, que rompesse os estreitos limites da prudência
convencional, e que por uma vez se levantasse e fizesse maravilhas. Que
regressássemos à era dos milagres. Que a Igreja desnudasse seu braço e
arregaçasse as mangas de sua formalidade! Deixem-na ir adiante com um
pensamento poderoso em si, do qual os mundanos rirão e zombarão, e eu pararia
aqui, e diante do tribunal de um mundo escarnecedor, me atreveria a defendê-la!
Oh Igreja de Deus, você não faz
nada extravagante por Cristo! Vocês poderiam fazer sair às ruas suas Marias e
elas poderiam quebrar seus vasos de alabastro, apenas Ele tem merecido que se
quebre. Poderiam derramar o perfume, e dar rios de unguento, e grande quantidade
de gordura de animais cevados, apenas Ele tem merecido tudo isto.
Eu vejo a Igreja como era nos
primeiros séculos, como um exército transtornando, impactando uma cidade, uma
cidade que estava cercada por um grande fosso, e não havia maneira de alcançar
as muralhas, exceto cobrindo o fosso com os cadáveres dos próprios mártires e
confessores da Igreja! Você pode vê-los? Um bispo acaba de cair, acabam de
arrancar sua cabeça com a espada. No dia seguinte, no tribunal, há mais vinte
que desejam morrer para seguir o bispo! E no dia seguinte, mais vinte, e a
corrente flui até que o fosso gigante é preenchido! Portanto, aqueles que os
seguiram, escalam os muros e plantam o estandarte manchado de sangue da Cruz, o
troféu de sua vitória sobre as ameias3 que cercam a
cidade.
O mundo poderia perguntar: “Por
que todo esse derramamento de sangue?” Eu respondo que Aquele por quem todo
[esse sangue] foi derramado é digno. O mundo pergunta: “Por que este
desperdício de sangue? E por que toda essa energia desperdiçada em uma causa
que na melhor das hipóteses é fanática?” Eu respondo: “Ele é digno! Ele é
digno, mesmo se todo o mundo todo fosse colocado no incensário, e todo o sangue
dos homens fosse o incenso, Ele é digno de que tudo isto seja sacrificado por
Ele. Ainda que a Igreja fosse sacrificada em um massacre, Aquele em cujo altar
foi morta, é digno!
Embora cada um de nós
permanecesse trancado em um calabouço e apodrecesse lá, embora o musgo
crescesse sobre nossas sobrancelhas, mesmo que nossos corpos fossem dados como
alimento para os milhanos, e a carniça, aos abutres, Ele é digno de reclamar
este sacrifício, e ainda seria um sacrifício muito insignificante para alguém
como Ele. “Oh Senhor, restaura na Igreja a força do amor que possa ouvir esse
tipo de linguagem, e sentir que é verdade.”
III – Agora eu venho para o meu último ponto, sobre o qual eu vou
refletir por alguns instantes. A retórica é boa, a lógica é melhor, mas uma
DEMONSTRAÇÃO POSITIVA é o melhor!
Eu busquei dar-lhes a retórica
quando expus as palavras do texto. Tentei dar-lhes a lógica, agora que eu lhes
expliquei as razões para o amor, encontrados no texto. Eu agora quero – eu não
posso dar-lhes – Eu quero que vocês ofereçam, cada um de vocês, o exemplo de
seu amor por Cristo em suas vidas diárias. Deixem que o mundo veja que este não
é apenas um rótulo para vocês, uma etiqueta para algo inexistente, senão o que
Cristo é para vocês: “Aquele a quem ama a minha alma.” Me perguntas como o
farás, e eu vou te responder assim: “Não te peço que tonsures4 o
cabelo e se torne um monge, ou te enclausures você, minha irmã, e te tornes uma
freira”. Tal coisa poderia mostrar mais o teu amor a ti mesmo, do que o teu
amor por Cristo. Mas peço-lhe que te vás à tua casa agora, e durante os dias da
semana se envolva em sua ocupação diária: veja como os homens do mundo são
chamados a fazer, e siga o chamado que Cristo te fez e procura honrá-lO em teu
chamado.
Para mim, como um ministro,
certamente é até certo ponto menos honroso servir a Cristo porque meu chamado o
faz, por assim dizer, dê-me ouro, e para mim, fazer uma imagem de ouro de
Cristo a partir deste ouro, é uma pequena obra, mas Deus quer encontrar mais do
que aquilo que as minhas pobres forças poderiam obter, se não fosse por Sua
graça. Mas para você formar a imagem de Cristo no ferro, ou de barro, ou de
metal comum em suas conversações normais, oh, isso certamente será glorioso! Eu
penso que você pode honrar a Cristo em sua esfera, tanto quanto eu posso fazer
na minha, talvez até mais, pois alguns de vocês podem enfrentar maiores
problemas, podem ter maior pobreza, podem ter mais tentação, mais inimigos e,
portanto, vocês, ao amarem a Cristo debaixo de todas estas provações podem
demonstrar mais plenamente do que eu jamais poderia fazê-lo, quão verdadeiro é
o vosso amor por Ele, e como a inspiração de suas almas é o Seu amor por vocês!
Vão, eu digo, e olhem para as
oportunidades de amanhã, e no dia seguinte para fazerem algo por Cristo! Falem
defendendo Seu [querido] Nome se alguém O ultrajar, e se encontraram ferido em
Seus membros, sejam como Eleanor, esposa do rei de Inglaterra, que chupou suas
feridas para extrair o veneno! Estejam prontos para que seus nomes sejam
ultrajados para que Ele não seja desonrado! Levantem-se por Ele, e sejam Seus
campeões. Que não Lhe faltem amigos, pois Ele continuou sendo seu Amigo quando
você não contava com ninguém. Se você encontrar qualquer pobre entre o Seu
povo, mostre-lhe o amor por amor dEle, como Davi fez com Mefibosete por amor de
Saul. Se souberes que algum deles está com fome, leva-lhe alimento, como se
pusesses o prato na frente do próprio Jesus Cristo. Se vires alguém nu,
vesti-o, estás vestindo a Cristo, quando vestes a qualquer um de Seu povo.
Além disso, não somente busques
este bem para Seus filhos, mas sempre procura ser um Cristo para aqueles que
ainda não são Seus filhos. Vês no meio dos ímpios, e dos perdidos, e
abandonados, e fala-lhes as palavras dEle, diga-lhes que Jesus Cristo veio ao
mundo para salvar os pecadores. Vás à procura das ovelhas perdidas, sê tu um
pastor como Ele foi um pastor, e assim mostrarás o seu amor. Dá-Lhe tudo o que
puder. Quando vocês morrerem, faça-O herdeiro de algumas de suas propriedades.
Eu não acreditaria que amo meu amigo, se às vezes não lhe desse um presente; eu
não creria amar a Cristo se não lhe desse algo, se não Lhe comprasse cana
aromática com dinheiro, se não O fartasse com a gordura de meus sacrifícios.
Ouvi outro dia uma pergunta sobre
um ancião que há muito tempo havia professado ser um cristão. Eles disseram que
havia deixado tanto e tanto dinheiro, e alguém perguntou: “mas em seu
testamento, você deixaria algo para Cristo?”. Alguém riu e considerou a
pergunta como ridícula! Ah! Isso é porque os homens não creem que Cristo é uma
pessoa; mas se nós possuíssemos esse amor, seria natural que lhe déssemos, que
vivêssemos para Ele, e, talvez, se possuíssemos alguma coisa, que Ele herdaria
– de tal forma que, mesmo morrendo, pudéssemos dar ao nosso Amigo, em nosso
testamento, uma prova que O lembramos, da mesma maneira que Ele se lembrou de
nós em Sua última vontade e testamento!
Oh irmãos e irmãs, o que mais
precisamos na Igreja é um amor mais extravagante para com Cristo! Eu quero que
cada um de vocês mostre seu amor por Jesus, fazendo algumas vezes algo que
nunca tenham feito antes. Recordo ter dito uma vez, em uma manhã de domingo,
que a igreja deveria ser um lugar de descobertas, como o mundo. Nós não sabemos
quais as máquinas que ainda serão inventadas pelo mundo, porém a criatividade
humana está em atividade contínua para descobrir algo novo. Assim também a
criatividade da Igreja deve estar ativa para encontrar um novo plano para
servir a Cristo.
Robert Raikes fundou as escolas
dominicais, John Pounds fundou os “Ragged School”5, mas
deveríamos nós nos contentarmos em continuar o que eles inventaram? Não!
Precisamos de algo novo. Foi no Surrey Hall, através daquele sermão, que os
nossos irmãos pela primeira vez pensaram nas reuniões que tiveram lugar à
meia-noite: uma novidade sugerida pelo sermão que preguei sobre a mulher com o
vaso de alabastro. Mas ainda não chegamos ao final. Acaso não há aqui um homem
ou mulher que possa inventar algo novo para Cristo? Não há algum irmão ou irmã
que possa fazer mais por Ele, do que fez hoje, ou do que fez ontem, ou durante
o último mês? Não há alguém que se atreva a ser estranho, e único, e louco, e
fanático aos olhos do mundo? Lembrem que não há amor que não seja fanático, aos
olhos dos homens! Vocês podem ter certeza que o amor que se limita ao decoro
não é amor. Eu desejo que o Senhor coloque algum pensamento em seu coração para
dar uma oferta incomum de ações de graças, para emprestar um serviço incomum,
de tal forma que Cristo seja muito honrado com o melhor de suas ovelhas, e que
a gordura dos seus bois seja sumamente glorificada pela prova de seu amor por
Ele.
Que Deus vos abençoe como
congregação. Eu só posso invocar a Sua bênção, então, oh, esses lábios se
recusam a falar mais do amor que eu confio que meu coração conhece, e que eu
desejo sentir mais e mais! Pecador, confie em Cristo antes de procurar amá-lO –
e confiando em Cristo você vai amá-lo, por Sua graça.
Amém.
_
_________________
Notas do tradutor:
Notas do tradutor:
[1] Espelho Ustório: Espelho
côncavo que, quando posto frente ao sol, reúne os raios solares em um ponto
chamado foco, e os comunica aos corpos o calor dos raios solares e os abrasa. O
mesmo que espelho ardente. (Priberam.pt)
[2] Isaac Watts (1674-1748): Foi
poeta, pregador, teólogo e pedagogo inglês. É reconhecido como o “pai da
hinologia inglesa”, pela grande quantidade e alta qualidade espiritual dos
hinos que compôs. Charles Haddon Spurgeon cita com frequência alguns dos hinos
compostos por Watts em seus sermões. Neste caso, o hino citado chama-se “Uma
descrição de Cristo, o Amado” (“A Description of Christ, the Beloved”), baseado
em Cantares de Salomão 5:9-16. (Fontes: Wikipedia.org e Sermonindex.net)
[3] Ameias: Cada um
dos pequenos parapeitos denteados que guarnecem o alto das torres,
fortificações ou castelos e que protegem os atiradores (Dicio.com.br)
[4] Tonsura: Ato ou
efeito de tosquiar. Ato ou efeito de cortar o cabelo ou as barbas. Liturgia:
cerimônia religiosa em que o bispo dá um corte no cabelo do ordenado ao
conferir-lhe o primeiro grau do clericato (chamada também prima tonsura). A
rodela de calvície na cabeça dos clérigos; cercilho, coroa. Receber a tonsura,
tomar a tonsura, tomar ordens, entrar para o estado eclesiástico.
[5] Ragged School: Um
tipo de escolas não-regular, informal que era destinada a crianças em
vulnerabilidade social. A ideia de escolas irregulares foi desenvolvida por
John Pounds, um sapateiro de Portsmouth. Em 1818, Pounds começou a ensinar
crianças pobres, sem cobrança de taxas. (Maybole.org)
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